segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

[Resenha] Precisamos Falar Sobre o Kevin - Lionel Shriver

Autora: Lionel Shriver
Editora: Intrínseca
Páginas: 464
Classificação: 4.5/5 estrelas
Título Original: We Need Talk About Kevin
Compre: Amazon Brasil

Aos 15 anos, Kevin mata 11 pessoas. Enquanto ele cumpre pena, a mãe Eva amarga a monstruosidade do filho. Entre culpa e solidão, ela apenas sobrevive. A vida normal se esvai no escândalo, no pagamento dos advogados, nos olhares sociais tortos.

Transposto o primeiro estágio da perplexidade, um ano e oito meses depois, ela dá início a uma correspondência com o marido, único interlocutor capaz de entender a tragédia, apesar de ausente. Cada carta é uma ode e uma desconstrução do amor. Não sobra uma só emoção inaudita no relato da mulher de ascendência armênia, até então uma bem-sucedida autora de guias de viagem.

Cada interstício do histórico familiar é flagrado: o casal se apaixona; ele quer filhos, ela não. Kevin é um menino entediado e cruel empenhado em aterrorizar babás e vizinhos. Eva tenta cumprir mecanicamente os ritos maternos, até que nasce uma filha realmente querida. A essa altura, as relações familiares já estão viciadas. Contudo, é à mãe que resta a tarefa de visitar o "sociopata inatingível" que ela gerou, numa casa de correção para menores. Orgulhoso da fama de bandido notório, ele não a recebe bem de início, mas ela insiste nos encontros quinzenais. Por meio de Eva, Lionel Shriver quebra o silêncio que costuma se impor após esse tipo de drama e expõe o indizível sobre as frágeis nuances das relações entre pais e filhos num romance irretocável.

Resenha:

"Quando a gente monta um show, não atira na plateia."

Precisamos Falar Sobre o Kevin sempre foi uma história que me chamou atenção, pela premissa de um massacre escolar. Isso era o máximo que eu sabia sobre ele, por isso, ao iniciar a leitura, não imaginava o que me aguardava.

Algo que é unânime em qualquer opinião sobre o livro é que é uma leitura arrastada! A forma de narração causa estranheza inicialmente e muitas vezes parece não levar à nenhum lugar, sendo apenas páginas e páginas sem sentido. Junto à isso, temos o fato da história não possuir nenhum alívio cômico, é uma leitura densa e dramática do início ao fim. Porém, tudo se encaixa no final, nos mostrando que nenhum momento foi inserido sem necessidade. E que final! Totalmente inesperado e chocante.

Os personagens também são extremamente bem construídos. Eva possui inúmeros defeitos - e expõe todos durante as cartas - e erra em diversos momentos com Kevin, mas ainda assim nos importamos com ela, em vista de todo seu sofrimento pelos atos do filho. Seu dilema entre ser culpada ou não é doloroso. E Kevin é um tipo único, que nos "conquista" assim que aparece e mesmo quando não está no ambiente, sentimos sua presença, sempre à espreita - já quando se faz presente, a sensação de leitura arrastada some totalmente. O pai é um personagem passivo, que nos causa irritação todo o tempo, por isso é a relação entre Eva e Kevin que nos conquista.

A escrita de Lionel é incrível. É possível ver que ela teve todo um cuidado com a cronologia da história para que tudo se encaixasse no fim, além dos diálogos crus e verdadeiros, como se ela tivesse passado por tais momentos. É um misto de diversas sensações quando a leitura é concluída, principalmente após uma declaração de Eva.

É óbvio que indico! Apesar do problema com a narrativa pesada, vale a pena persistir. A adaptação feita em 2011 também ficou excelente, e Tilda Swinton e Ezra Miller merecem todos os elogios pela interpretação de Eva e Kevin. Entretanto, como a Tati Feltrin bem observou na resenha dela, talvez não funcione muito para quem não leu o livro. Então, caso você tenha a chance de lê-lo, não a deixe passar.

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